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A cerveja trapista na Itália: Adabia de Tre Fontane

Atualizado: 28 de jul. de 2022

Salve nobres,


Periodicamente vamos publicar aqui alguns artigos traduzidos do maior site italiano dedicado à cerveja artesanal, o Giornale della Birra. Principalmente as matérias sobre a história das cervejarias, escritas por Antonio Mennella. A escolhida para ser a primeira é a história da Abadia de Tre Fontane, localizada em Roma. O único monastério Trapista da Itália a produzir cerveja. Nesse link, você pode encontrar o texto original de Mennella. Vamos a ele!


É o único complexo religioso da capital do país que pode se orgulhar do título de abadia e contar com três igrejas: a de São Paulo das Três Fontes, a de Santa Maria Scala Coeli e a igreja abacial de Santo Anastácio e São Vicenzo.

Além disso, é membro efetivo da Associação Internacional Trapista desde 2014. Em Maio de 2015 obteve a marca de Authentic Trappist Product para os próprios produtos, se tornando assim a décima primeira cervejaria trapista do mundo, e a única na Itália. Portanto, vale a pena gastar com ela algumas palavras a mais, a começar do seu nascimento.

No campo romano (atual zona da EUR), sobre o traçado da antiga Via Laurentina, em um pequeno vale, entre oliveiras e eucaliptos, existe um lugar chamado as "Acque Salve”, em latim ad Aquas Salvias, nome que se deve, segundo alguns, à família Salvia, que possuía ali uma propriedade em épocas tardo-latinas; e, segundo outros, à presença das abundantes e saudáveis nascentes ainda ativas.

Junto às Acque Salve, em 29 de Junho de 67 d.C., teria sido decapitado, por ordem de Nero, o apóstolo Paulo. A cabeça do apóstolo teria batido três vezes no chão, de onde teriam nascido três fontes de água. Assim, o edifício sacro erguido no lugar em memória de São Paulo ganhou a denominação de Igreja de São Paulo das Três Fontes.

Na segunda metade do século VI, o general bizantino Narsete, governador da Itália em nome do Imperador Justiniano, fez construir um monastério anexo à pequena igreja dedicada a São Paulo, que ganhou o nome ad Aquas Salvias. E, na primeira metade do século seguinte, após a invasão da Cilicia pelos árabes, chegaram a Roma monges gregos que constituíram o primeiro assentamento.

Talvez, pela presença mesma dos monges gregos, o Imperador Eraclio, enviou para guarda no monastério das Acque Salvie as relíquias de Santo Anastácio, monge persa martirizado à mando de Cosroe em 624. Pertence a esta época também a fundação da igreja dedicada à Mãe de Deus, que se tornará Santa Maria Scala Coeli depois da visão de Bernardo de Clairvaux das almas do purgatório que subiam ao céu conduzidas por anjos.

No fim do século XI, os cluniacenses estavam se tornando a mais poderosa ordem monástica do tempo, e o Papa sentia a necessidade de aliados do gênero na luta contra o Imperador. Assim, em torno de 1080, com a desculpa de que estava decadente, Gregório VII confiou a eles a abadia e seus bens.

Mas, em 1140, Inocêncio II, removidos os últimos cluniacenses sobreviventes da malária, restaurou o grupo de edifícios que estavam reduzidos ao estado de abandono e o atribuiu à congregação cisterciense, por gratidão a Bernardo de Clairvaux, que durante o cisma de Anacleto II (defendido pelos cluniacenses), havia obtido para ele o reconhecimento imperial. Remonta a este período a construção da igreja dedicada a Santo Anastácio. Que, em 1370, por ocasião da chegada de Portugal de algumas relíquias do espanhol Vincenzo di Saragoza, ganhará o nome de ambos os santos. De fato, já em um documento de 1161 são mencionadas todas as três igrejas do monastério. Que, com sua conclusão em 1306, assumirá a estrutura que chegou até os nossos dias.

Com a ocupação napoleônica do Estado Pontifício e a supressão das fundações religiosas, os monges cistercienses abandonaram Tre Fontane em 1808 e, mudando-se para longe, não voltaram nem mesmo depois da restauração. Assim, quando Leone XII em visita à abadia, em 1826, a encontrou em um assustador estado de abandono, com uma bula impôs aos cistercienses que confiassem Tre Fontane aos franciscanos menores de São Sebastião, com a obrigação de retomar o culto e reconstruir uma comunidade. Infelizmente, frente a um tal estado de abandono dos edifícios e ao clima ruim do lugar, os frades franciscanos se limitaram a reabrir o complexo abacial apenas parcialmente, o fechando durante a noite.

Em 1855, Pio IX, junto com o Procurador Geral dos trapistas, Francesco Regis, que estava de visita a Roma, tentou lançar um projeto de restauração para Tre Fontane, mas o custo previsto impediu sua implementação. Que se tornou possível em 1867, por ocasião do jubileu extraordinário pelo 18º centenário do martírio de São Pedro e São Paulo e, sobretudo, devido a uma considerável doação da parte do conde francês De Moumilly.

Com a bula de 21 de abril de 1868 foi reestabelecida uma comunidade residente (que devia ter pelo menos 14 componentes) e a abadia é confiada aos trapistas para que providenciassem o restauro dos edifícios e o melhoramento do terreno, altamente favorável à malária.

Os monges empreenderam radicais obras de restauro do complexo monástico. E, sobretudo, operaram uma melhoria integral da zona com a construção de sistemas de drenagem das águas estagnadas. Um verdadeiro perigo mesmo para os fundamentos das estruturas dos edifícios.

A luta contra a malária encontrou um aliado valioso no eucalipto, em particular depois da liquidação da propriedade eclesiástica, quando os trapistas obtiveram em enfiteuse perpétua 450 hectares do território das Acque Salvie, com a condição de cultivar, para o seu beneficiamento, 125 mil plantas de Eucalyptus. Os trabalhos de beneficiamento continuaram até os primeiros anos dos Novecentos, até que a cobertura de uma lagoa perto do mosteiro e o uso de mosquiteiros e quinino resolveu o problema da malária.

E por isso, o eucalipto é um dos símbolos da abadia das Tre Fontane. E não apenas. O eucalipto (ou Eucalitto) é uma planta do gênero das Mirtacee (Eucalyptus) com 600 espécies da Austrália e da Tasmânia. A classificação das espécies é feita, geralmente, com base no aspecto da casca: o Eucalyptus globulus e o Eucalyptus camaldulensis, comuns na Itália, têm a casca lisa e brilhante. As folhas contêm óleos essenciais constituídos, principalmente, por compostos terpenoides e usados como antissépticos, perfumes e flutuantes [sic]. Os trapistas das Tre Fontane conseguiram desenvolver um grande conhecimento de todas as 600 espécies de eucaliptos existentes.

Desde 1873, a abadia realiza uma vasta série de produtos. Em particular os licores, que utilizam amplamente o eucalipto. No passado, o Eucalittino era um dos aperitivos mais difundidos em Roma. Ainda hoje é produzido, sempre com a receita original de 1873, por meio da infusão a frio das folhas do Eucalyptus globulus, o Estrato de Eucalipto, um licor forte sem açúcar, balsâmico e revigorante.

Há quatro anos foi encontrada, nos subterrâneos do monastério, uma receita dos trapistas franceses que vieram dar uma mão no beneficiamento do território da malária. Teve início, assim, o projeto da cerveja, com produção feita em uma cervejaria vizinha à comunidade. Obviamente, sendo produzida fora da comunidade, a cerveja ganhou a denominação de Cerveja dos Monges.

Por fim, a abadia se dotou de uma instalação interna de produção, aproveitando a antiga adega, antes utilizada para a produção do vinho (agora deslocada para outra ala da abadia); promoveu uma cuidadosa reformulação do rótulo, sendo membro da Associação Internacional Trapista, fez a requisição para obter a marca Authentic Trappist Product que, ao fim do procedimento de validação, lhe foi atribuída em maio de 2015, como já foi dito.

Obviamente que a cerveja que hoje se chama Tre Fontane é a Cerveja dos Monges criada pela comunidade dos trapistas de Tre Fontane que, porém, foi aperfeiçoada aproveitando a consultoria e a vasta experiência da Associação Internacional Trapista e obtendo, talvez, a levedura de uma outra cervejaria trapista (uma das não raras gentilezas existentes no âmbito desta comunidade).

A produção, por outro lado, é intencionalmente, reduzida a mil hectolitros anuais, o suficiente para o sustento da comunidade, para obras de caridade e para preservar o patrimônio histórico e cultural do complexo abacial.

A Tre Fontane pode ser adquirida junto à loja monástica, onde os produtos trapistas são vendidos diretamente, e em alguns restaurantes da capital. Por fim, a abadia não se limita a aproveitar a própria cerveja para fazer conservas, mas também criou um copo exclusivo para a sua degustação.

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