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Angelo Poretti, História de uma cervejaria italiana

Atualizado: 23 de jul. de 2022

Salve nobres,


Publicamos hoje a tradução de mais um texto da série grandes cervejarias da Itália, de autoria Antonio Mennella, publicado no seu livro La Birra nel Mondo, volume II (Meligrana Editore) traduzido do site italiano Giornale della Birra.


Angelo Poretti, de origens campesinas, emigrou cedo de Vedano Olona, (onde havia nascido em 1829), para a Áustria, onde passou de agricultor a operário nas construções ferroviárias e, por fim, parece, proprietário de uma pequena empresa. Quando voltou para a Itália, em 1876, tinha 47 anos, a esposa boêmia (Franziska Peterzilka) e um pequeno capital (60 mil liras em ouro).

Na Áustria, na Baviera e na Boêmia tinha conhecido os melhores mestre-cervejeiros, tornando-se amigo deles e aprendendo, assim, receitas e segredos do ofício. Nada de estranho, portanto, se ele decidisse investir suas economias de toda a vida em uma fábrica de cerveja de vanguarda, isto é, no modelo daquelas que tinha visitado nas suas peregrinações e que o fizeram sonhar de olhos abertos.


Profundamente ligado à própria terra, Angelo Poretti tinha no sangue o empreendedorismo italiano que caracterizou o fim do Oitocentos e o início do Novecentos. E acreditava, apesar dos tempos que corriam, naquele empreendimento pioneiro: contava com a difusão do conhecimento da cerveja na Itália, reinterpretando-a à luz do gosto e da sensibilidade dos italianos.


A escolha do lugar caiu sobre Induno Olona, um pequeno centro da província de Varese, sobre a margem esquerda do rio Olona. Ali, se podia desfrutar durante o verão das grutas de Valganna para fazer o lagering; bem como do gelo dos lagos de Ganna e Ghirla para a conservação da cerveja. Mas, sobretudo, a água da fonte de Valganna, famosa como a “fonte dos doentes” pelas suas propriedades curativas. Portanto, Angelo Poretti não pensou duas vezes para adquirir a fábrica desativada de amido Amideria del Dones e a fonte “milagrosa”. Fez vir de Pilsen Emanuele Anger para uma supervisão profissional. E o experiente cervejeiro tcheco só pôde atestar a existência das prerrogativas para abrir uma cervejaria promissora.

Constituiu-se a sociedade entre Angelo Poretti e Angelo Nicora e começaram os trabalhos para a construção do estabelecimento. Chegaram as instalações de Vienna e de Pilsen, dois tanoeiros e outros tantos mestres-cervejeiros que assegurassem o mesmo método de produção da sua terra.


Em 26 de dezembro de 1877, a cerveja estava pronta. E, ao fim de um ano, foram produzidos 1152 hectolitros, nas duas clássicas tipologias da época: uma clara, do tipo Pilsen, e uma escura, do tipo de Munique.


Por ocasião da morte de Angelo Poretti, em 1901, entraram na atividade, por falta de filhos, os quatro sobrinhos: os irmãos Angelo e Tranquillo Magnani, Edoardo Chiesa e Francesco Bianchi, que continuaram de forma notável a obra do tio. Assim, a empresa continuou a crescer, inclusive através da expansão e modernização da cervejaria, que culminaram com a construção de uma “adega torre” com seis andares de maturação e uma adega de fermentação em ebonita.


Inclusive, em 1905, para poder satisfazer a crescente demanda do mercado, decidiu-se renovar a planta de produção. O projeto foi confiado a dois arquitetos alemães, Bihl e Woltz, que realizaram um esplendido estabelecimento em estilo liberty (Jugendstil). A nova sala de fervura, com uma capacidade produtiva de 150 mil hectolitros anuais, colocava a Poretti entre as maiores cervejarias da Europa.


A produção no exercício 1909-10 atingiu os 53.093 hectolitros e continuará a subir nos anos sucessivos, superando inclusive o momento difícil da Grande Guerra. Em 1922, a empresa se transformou em sociedade anônima com um processo de remodelamento de gestão e organizativo.


Depois chegou a recessão mundial de 1929 e foram dores para todos. A situação já tinha se tornado pesada pela morte prematura de dois dos sócios, em particular Angelo Magnani, em 1925. Mas os sobreviventes, sobretudo Edoardo Chiesa, não desistiram diante de uma empresa em grandes dificuldades. Inclusive construíram um novo grande estabelecimento para engarrafamento em 1932.


A grande crise mundial não mostrava sinais de redução: em 1934 a produção desceu a 14.344 hectolitros. Em 1935, os ousados cervejeiros foram forçados a se concentrarem em um sócio, um certo A. Weill, tchecolosvaco de origem judaica, que três anos depois desapareceu para fugir das perseguições raciais.


Em 1939, uma nova geração de empreendedores lombardos, os Bassetti, proprietários da cervejaria Spluga di Chiavenna (SO), que remetia a 1840 e com o nome emprestado do alto passo alpino, assumiram a cervejaria Angelo Poretti. Os Bassetti também souberam realizar o “milagre” econômico, levando a produção a mais de meio milhão de hectolitros. Crescimento obtido movendo toda a atividade do estabelecimento de Chiavenna para a planta de Induno Olona e potencializando a estrutura e a rede comercial.


Em 1969, os Bassetti lançaram a marca Splünger Bock (protagonista de um comercial assinado por Ermanno Olmi, entre outros) e as primeiras cervejas dry. E, em 1974, comprando o estabelecimento de Ceccano (FR) della Hemmel, colocaram as mãos também na marca Skol.


Depois, em 1975, Aldo Bassetti estipulou um acordo com o grupo dinamarquês United Breweries (nascido em 1970 da fusão da Carlsberg com a Tuborg, mas que desde 1987 será nomeado simplesmente como Carlsberg) para a produção e a comercialização na Itália das marcas Carlsberg e Tuborg. Seguiu-se, em 1982, a entrega ao grupo dinamarquês de 50% das ações e, em 1998, de mais 25%. Com 75% do pacote acionário, a Carlsberg transformou a razão social das indústrias Poretti em Carlsberg Itália S.A., completando a aquisição do capital em 2002.

Iniciou, portanto, um longo trabalho de ampliação e reestruturação do estabelecimento que, ainda que respeitando a tradição, se tornou um dos mais eficientes e modernos da Itália.


Por volta do fim dos anos oitenta, começou a realização de um agressivo programa comercial que previa o relançamento da histórica marca Splügen, com uma série especial de lagers com atraentes inovações na embalagem, como aquela exclusiva da época da tampa de rosca para fechar hermeticamente a garrafa.


Splügen. Splügen fumée, acobreada e levemente defumada, tipo Bamberg rauchbier, produzida com malte da Franconia (4,5% de graduação alcóolica), certamente a mais representativa da série, mas ainda precoce para o gosto dos italianos da época. Splügen Rossa, de coloração vermelha acobreada, robusta e intensamente frutada (7% de graduação alcóolica). Splügen Scura, negra, em estilo alemão (6% de graduação alcóolica). Splüngen Quinto, de coloração amarela (5% de graduação alcóolica): a primeira cerveja italiana com cinco cereais (cevada, trigo, aveia, centeio e espelta).

Entre as standard, por outro lado, destinadas ao consumo cotidiano, mas notoriamente de boa qualidade, três cervejas claras devem ser mencionadas, todas com 4,5% de graduação alcóolica: Saint Louis, Neptun Krone Pilsner e Brüder Hof.


Enquanto a Werner Brau (4,5% de graduação alcóolica) pretendia recordar que a Poretti havia introduzido no nosso país a fabricação da pilsner de baixo teor alcóolico.


Em 2007, por ocasião do 130º aniversário da fundação, foi realizado um re-styling no qual o estilo Art Noveau (que caracteriza os edifícios da fábrica e remete à época em que as ex-Indústrias Poretti se afirmaram no mercado) coexistiam com novos elementos gráficos: o logotipo Cervejaria Angelo Poretti, com a supressão de 1877 para as duas bock; o pescoço com a assinatura original do fundador, o rótulo com uma velha imagem da sala de fervura na parte inferior.


E, naturalmente, apareceu em edição limitada a cerveja comemorativa dos 130 anos (com 5,5% de graduação alcóolica). A receita, única e mantida zelosamente em segredo, pretendia se referir ao espírito pioneiro e experimental de Angelo Poretti. Um produto, portanto, inédito no seu estilo, que fugia a qualquer classificação tipológica.


Tudo o que restava era desfrutar de uma rara e envolvente degustação, depois de admirar aquela cor quente e homogênea, ligeiramente âmbar.


Sob o controle do grupo Carlsberg Breweries A/S (DK), a Carlsberg Itália tem a sua sede administrativa na província de Milão, em Lainate. Com o fechamento, em 2008, do estabelecimento de Ceccano, toda a produção nacional foi concentrada em Induno Olona.


A produção, que “viaja” além de 1 milhão e 90 mil hectolitros por ano e coloca a empresa em quinto lugar em importância no nosso país (com uma participação de 5,8% no mercado), também inclui Carlsberg (exclusivamente pelo canal Horeca, a versão All Malt Premium Beer, na nova e elegante garrafa com o logotipo em relevo), Carlsberg Elephant e Tuborg Green. Com o término da licença de produção e distribuição na Itália das marcas do grupo francês Kronenbourg, a Kronenbourg 1664, da Peroni, passou para a Carlsberg Itália.


A Carlsberg Itália distribui, além disso, produtos importados do seu próprio grupo ou de outros (Carlsberg Special Brew, Feldsclösschen Alkoholfrei, as marcas Tucher e Grimbergen), cuja difusão favoreceu a abertura de toda uma série de locais temáticos:

Osteria Cervejaria Poretti, cervejaria italiana com cozinha

Tetley’s Pub, pub britânico

XXX Land, pub australiano

Tubrog Way Risto Pub & Pizza, cadeia de negócios multifuncionais de estilo italiano que combinam cerveja com pizza.

Cervejaria Angelo Poretti

Nova linha baseada no uso de diferentes processos de lupulização para criar diferentes aromas e gostos.

E se você quiser saber mais sobre o mercado de cerveja na Itália, você também pode assistir o vídeo que fizemos sobre o tema no nosso canal do Youtube:


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