top of page
Foto do escritorProfano Graal

Dos Estados Unidos: Anheuser Busch, a história

Salve nobres,

Publico hoje mais um texto sobre a história de grandes cervejarias internacionais de autoria Antonio Mennella, publicado no seu livro La Birra nel Mondo, volume I, editado pela Meligrana Editore, e traduzido do site italiano Giornale della Birra. Dessa vez, a história da gigante Anheuser-Busch, produtora da Budweiser.

Principalmente devido às convulsões políticas na Alemanha e na Boêmia de 1848, um grande número de imigrantes alemães chegou a St. Louis em meados do século. Assim, logo surgiram as cervejarias, com a introdução de um novo estilo nos Estados Unidos, a lager.


Georg Schneider também abriu em 1852 uma cervejaria, que ele chamou de Bavarian Brewery. Pouco depois, em dificuldades, a empresa teve de recorrer a um grande empréstimo; mas a situação não melhorou. Assim, em 1860, dois dos financiadores, o farmacêutico William d'Oench e Eberhard Anheuser, puderam facilmente assumir o controle de toda a empresa, que tomou o nome de E. Anheuser & Co.


Chegando da Alemanha em 1843, Eberhard era dono da maior fábrica de sabonetes e velas de St. Louis. Atividade que continuou a desenvolver, juntamente com a de cervejeiro, apesar de não ter experiência na matéria. O farmacêutico, por outro lado, um parceiro absolutamente desinteressado na fabricação de cerveja, chegou a vender sua parte para Eberhard em 1869.


Em 1861, quando a E. Anheuser & Co. ocupava o 29º lugar no ranking dos 40 produtores de cerveja da cidade, entrou em cena outro alemão, Adolphus Busch, de 22 anos. Brilhante e dinâmico representante de equipamentos e produtos para a fabricação de cerveja. Há muito tempo em boas relações com os Anheusers, Adolphus se casou com Lilly, filha de Eberhard. Três anos depois ingressou na empresa familiar como vendedor, para mais tarde tornar-se, comprando metade da propriedade da fábrica, sócio do sogro e trazendo, com a sua própria personalidade brilhante, o pequeno negócio local para uma dimensão nacional.

Por volta de 1870, Adolphus empreendeu inúmeras viagens à Europa Central, especialmente à Baviera e à área de Pilsen, para estudar as diferentes técnicas de fabricação de cerveja. Assim, também tomou conhecimento dos estudos realizados por Louis Pasteur sobre a conservação de substâncias alimentares. Em 1875, a empresa foi renomeada para E. Anheuser-Busch Society Brewing Association.


Em 1876, Busch fez bom uso da experiência adquirida na Europa. Com o amigo Carl Conrad, dono de restaurante e vendedor de vinhos de St. Louis, ele desenvolveu um novo produto, inspirado na tradição da cidade tcheca de Budweis, mas com adição de arroz e maturação do mosto em tanques contendo lascas de faia. Assim nasceu a primeira marca de cerveja verdadeiramente nacional dos Estados Unidos, produzida para ser universalmente popular, transcendendo gostos regionais e capaz de satisfazer os mais diversos paladares. Se tratava de uma lager clara pouco caracterizada, com um teor alcoólico aparentemente baixo e um sabor leve e mais delicado do que as pilsners então produzidas nos Estados Unidos.


Até o nome escolhido foi tcheco, o mesmo usado pelas cervejarias de Budweis (tendo à frente a Samson, ativa desde 1795) para a maioria de seus produtos. E a Budweiser, além de lembrar as renomadas cervejas europeias com forte atração para a grande população de origem alemã, ainda se prestava a uma pronúncia fácil em inglês.

Pela primeira vez no Novo Mundo, Busch aplicou o método de pasteurização que estendia o tempo de conservação das características organolépticas. E, com o recurso à recente conquista da época, a ferrovia (outra brilhante intuição) começou a distribuir a longas distâncias em vagões especiais refrigerados, saindo do âmbito local para se estabelecer cada vez mais em escala nacional.


O acordo entre Busch e Conrad previa, da parte do primeiro, a produção na fábrica de St. Louis; e da parte do segundo, o engarrafamento e a distribuição. Em 1877, o nome Budweiser foi transformado em marca registrada: a primeira marca nacional de cerveja nos Estados Unidos. Dois anos depois, a empresa foi renomeada como Anheuser-Busch Brewing Association.


Com a morte de Eberhard em 1880, Busch tornou-se presidente da nova empresa, a Anheuser-Busch. Três anos depois, assolado por problemas financeiros, Conrad foi forçado a vender sua participação e aceitar um cargo na empresa. Desde então, nos Estados Unidos, a Budweiser sempre foi engarrafada e distribuída pela Anheuser-Busch.

Em 1896 foi desenvolvida uma segunda cerveja, a premium Michelob, concebida como um “chope para conhecedores” e com o nome derivado de uma corruptela da cidade eslovaca de Michalovce. Feita com uma quantidade menor de arroz, oferecia um aroma mais marcadamente lupulado.

No entanto, a Budweiser, como a primeira marca distribuída nacionalmente na história da indústria cervejeira americana, permaneceu como ponta de lança. A partir de 1876 seu sucesso fez o sucesso do fabricante. Em 1895, o rival mais feroz, Miller, não alcançou nem a metade das vendas da Anheuser-Busch, que em 1901 atingiu a marca do primeiro milhão de hectolitros.

Em 1913 morreu também Adolphus Busch; seu filho, August A. Busch, o sucedeu na presidência. E a empresa permanecerá sempre sob a direção de um membro da família, até sua aquisição pela InBev em 2008.

Durante o período da Lei Seca, muitas cervejarias americanas tiveram que fechar as portas. A Anheuser-Busch, começou a produzir o Bevo (bebida não alcoólica de cereal), conseguindo sobreviver. E em 1933, para comemorar solenemente o fim daqueles anos sombrios, enviou uma caixa de Budweiser para a Casa Branca. Retomada a atividade a todo vapor, a empresa de St. Louis já estava produzindo 2 milhões de hectolitros em 1938. Após a Segunda Guerra Mundial, para atender à demanda do mercado, instalou uma longa série de fábricas em diferentes partes do país: Newark (New Jersey, 1951); Los Angeles (Califórnia, 1954); Tampa (Flórida, 1959); Houston (Texas, 1966); Columbus (Ohio, 1968); Jacksonville (Flórida, 1969); Merrimack (New Hampshire, 1970); Williamsburg (Virginia, 1972); Fairfield (Califórnia, 1976); Baldwinsville (Nova York, 1980); Fort Collins (Colorado, 1988); Cartersville (Geórgia, 1992).

Em 1955 foi criada a Busch, distribuída regionalmente. Dois anos depois, a Budweiser era a cerveja mais bebida do mundo. Em 1964, a produção da empresa ultrapassou 10 milhões de hectolitros. E, ano a ano, até os dias atuais, também para enfrentar a concorrência acirrada das microcervejarias, a Anheuser-Busch passou a diversificar sua produção, sempre experimentando novos produtos: não alcoólicos, light, com baixo teor de carboidratos, sem glúten; até dark lagers, bocks, ales fortemente lupuladas, licores de malte, porters, cervejas de trigo.


Era hora também de olhar em volta e aceitar a realidade. Até então, a empresa, exceto pela participação na compatriota Redhook Brewery, de Seattle, e da quota de 50% do grupo mexicano Modelo, não nutria ambições expansionistas. Mas, com um mercado que agora estava coberto quase pela metade e que deixava poucas esperanças de crescimento nacional, ela não podia mais permanecer em sua concha. Fundou, então, em 1981, a Anheuser-Busch International Inc., responsável pelas operações internacionais e investimentos de capital da empresa. Começou a procurar pontos de venda no Velho Continente. Infelizmente, se viu sofrendo imediatamente com as limitações impostas à exploração da marca Budweiser. Na verdade, já no início do século 20, começou a batalha jurídica com a tcheca Budweiser Budvar, que exigia os direitos do nome. Uma polêmica destinada a permanecer viva e áspera ao longo do tempo.


Somente em 2006, a Suprema Corte sueca reconheceu que o direito da Anheuser-Busch derivava da transformação, ao longo de mais de um século, do nome geográfico em um estilo de cerveja seu. Portanto, naquele país, a empresa americana era a única que podia usar a marca Budweiser; pelo contrário, a empresa checa teve de vender a cerveja com o nome de Budějovický Budvar.


E, depois da Budweiser Budvar, também a alemã Bitburger solicitou formalmente ao órgão responsável pelo registro das marcas da União Européia que proibisse a cervejaria americana de usar os nomes Anheuser-Busch Bud e American Bud. Com a seguinte motivação: a pronúncia dos dois nomes criava muito frequentemente dificuldades ao consumidor, que acabava chamando a cerveja simplesmente de "Bud". Consequentemente, em lugares lotados e barulhentos, muitas vezes havia confusão entre "Bud" e "Bit", este último, o nome coloquial dos produtos da Bitburger associados ao já tradicional slogan "Bitte ein Bit".


Por outro lado, na Grã-Bretanha, onde também possuía uma unidade produtiva (que será fechada em 2010 em decorrência do programa de reestruturação pretendido pela InBev), a Anheuser-Busch pôde contar com a grande popularidade de suas cervejas, junto com a da Guinness. No resto da Europa, além das outras 10 fábricas localizadas em diferentes países (todas sob estrita supervisão), contou com a colaboração na produção e distribuição de cervejeiros nacionais.


Na China, adquiriu participações na Tsingtao (27%) e na Yan Ying. Respectivamente, primeira e segunda cervejarias do país; assumiu o controle do grupo Harbin, que remontava a 1900 e era o quarto produtor nacional.


Na Índia, por meio da joint venture com a Crown Beers, garantiu o direito de construir uma fábrica em Hyderabad para a produção da Budweiser, que inicialmente seria distribuída apenas em quatro estados do Sul e Oeste do país.


Em 2006 a empresa norte-americana iniciou a produção para o mercado de Nova Jersey do Rolling Rock da compatriota Latrobe Brewing Company, adquirida pela InBev USA. Concluiu assim um acordo com a Grolsch para a importação exclusiva das suas marcas e distribuição através dos seus 600 concessionários nos Estados Unidos: produtos que ladeavam as já importadas marcas Corona, Tiger e Kirin. Graças a mais um acordo com a InBev, ele se tornou importador exclusivo para seu país de marcas europeias de prestígio, como Stella Artois, Beck's, Bass Pale Ale, Hoegaarden, Leffe.

A aproximação com a Budweiser Budvar revelou-se particularmente lisonjeira, após um século de diatribes em diferentes partes do mundo: então a Anheuser-Busch começou a importar a famosa cerveja tcheca para os Estados Unidos. Enquanto o posterior acordo com a cadeia alimentar Exito levou à distribuição em 37 cidades colombianas da Bud Light, com as "credenciais" do sucesso já alcançado pela Budweiser.


Por fim, levando em consideração que o esporte, principalmente nos Estados Unidos, é uma oportunidade certa para efeitos promocionais e de forte consumo, a Anheuser-Busch vinculou sua marca a esportes e eventos esportivos de grande apelo. Um dos principais patrocinadores da NBA (National Basketball Association), ela não ignorou outras modalidades, como beisebol, futebol americano, vôlei; e na Fórmula 1, a equipe dos pilotos Juan Pablo Montoja e Ralf Schumacher.


Estendeu até 2014 o vínculo com os campeonatos mundiais de futebol, que começou em 1986. Por ocasião da Alemanha 2006, dedicou aos vencedores uma garrafa especial comemorativa, iniciando a produção de cerveja uma hora após a entrega da Copa. Ainda no mundo do futebol, patrocinou o Manchester United e o argentino River Plate.


No contexto olímpico, após ter apoiado os Jogos de Los Angeles em 1984, Atlanta em 1996 e Salt Lake City em 2002, ela saiu dos Estados Unidos para se tornar patrocinadora dos Jogos Olímpicos de Inverno de Turim em 2006, agarrando-se aos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, com o direito de uso do logotipo relacionado também em outros 29 países além da China. O objetivo era claramente reforçar a sua presença no mercado asiático de cervejas, em particular o chinês, que ainda hoje se apresenta com amplas oportunidades de desenvolvimento.


Já na Itália, a empresa americana uniu seu nome ao mundo dos esportes de prancha, como snowboard, surf, windsurf, kitesurf.


Assim, com o presidente e CEO August A. Busch IV, a Anheuser-Busch chegou aos nossos dias como um gigante industrial que alcançava 190 milhões de hectolitros por ano. Das 12 fábricas nos Estados Unidos, Fort Collins tem dimensões gigantescas. Enquanto a primeira fábrica, em Saint Louis, ainda administra, a única fazenda de cavalos Clydesdale na América, no pleno respeito à tradição familiar.


Infelizmente, sua situação estava começando a parecer tudo menos calma. Já, desde o primeiro momento, havia sido rebaixada para o terceiro lugar no ranking mundial de produtores pela SAB Miller e pelo megagrupo InBev. E ainda não havia conseguido encontrar oportunidades válidas de crescimento em um mercado como o dos Estados Unidos (um dos maiores do mundo) que luta com a queda do consumo e a alta do preço das matérias-primas a corroer os lucros.


Justamente em consideração a essas dificuldades, a InBev havia se adiantado apresentando uma proposta de compra atraente (46 bilhões de dólares, cerca de 65 dólares por ação), amparada na promessa de manter a sede em Saint Louis e não fazer cortes na força de trabalho. Uma oposição geral surgiu imediatamente. Busch obstinadamente pretendia permanecer independente e tinha o consenso do governador do Missouri e dos consumidores de todo o país que se expressaram de forma unânime na Internet: "Cerveja gelada é tão americana quanto beisebol e torta de maçã".


Mas a InBev não é do tipo que desiste. Afinal, jogaram a seu favor dois detalhes de fundamental importância: Busch tinha o controle societário mínimo da empresa, seguido por cerca de 5% do bilionário Warren Buffet; os rivais SAB Miller e Molson-Coors já estavam a caminho de fundir suas operações nos Estados Unidos e em Porto Rico. Era preciso, portanto, verificar a resistência ao desafio dos concorrentes, da parte de August Busch IV, e à tentação dos demais acionistas.


Finalmente, em julho de 2008, o conselho de administração da Anheuser-Busch aceitou a oferta de US$ 52 bilhões (US$ 70 por ação). Assim nasceu uma nova empresa, a Anheuser-Busch InBev. Enquanto Carlos Brito, diretor-superintendente da InBev, garantia que o preço extra pago não mudaria as promessas feitas: a sede da empresa americana permaneceria em Saint Louis, as 12 cervejarias americanas continuariam operando e a Budweiser seria comercializada mundialmente no nível da Stella Artois e Beck's.


No momento da passagem à InBev, a Anheuser-Busch era proprietária de 17 cervejarias no resto do mundo, além das nacionais. Enquanto sua participação no mercado dos EUA ocupava 48,9%.


As cervejas da Anheuser-Busch estão presentes em mais de 80 países. Budweiser e Bud Light ocupam as duas primeiras colocações no ranking mundial de vendas por volume, respectivamente, com 39,5 e 48 milhões de hectolitros por ano.


Sem dúvida, a fama da bebida também se deve também à difusão internacional de pratos típicos da cozinha americana, como hambúrgueres, com os quais harmoniza muito bem. Mas, para se tornar a cerveja mais vendida do mundo, certamente tem uma vantagem sobre suas concorrentes: a seleção rigorosa de ingredientes, um processo de produção único e exclusivo, as verificações mais precisas que inibem até mesmo a mais leve mancha dos padrões de qualidade desenvolvido ao longo de mais de 130 anos.


O processo de fabricação consiste em 240 etapas, rigorosamente controladas para garantir que a bebida seja sempre da melhor qualidade e com o mesmo sabor em todo o mundo. Para isso, nas fábricas americanas e estrangeiras da Anheuser-Busch, bem como nas de parceiros locais como a Heineken Italia, os mestres cervejeiros se reúnem diariamente para avaliar o aroma, a aparência e o sabor da cerveja nas diferentes etapas do processo produtivo. Uma vez por semana, as amostras da Budweiser são enviadas para a sede de Saint Louis.


A água, além dos testes diários de qualidade, é submetida a uma cuidadosa filtragem para eliminação de odores ou impurezas. O malte vem da cevada de duas e seis fileiras: a mistura dos dois tipos equilibra a doçura do primeiro com o sabor mais forte do segundo. O lúpulo é cultivado diretamente nas duas fazendas de sua propriedade, em Banners Ferry (Idaho) e em Hallertau (Alemanha). As duas fábricas da empresa, na Califórnia e em Arkansas, são responsáveis pelo refino do arroz. A levedura descende da cultura usada pela primeira vez por Adolphus Busch em 1876.

Completamente único é o método de maturação, denominado beechwood aging (“maturação em lascas de faia”). Faz parte do processo de fermentação secundária, aquele que determina o sabor natural e a efervescência.


Portanto, uma vez terminada a primeira fermentação, a cerveja é transferida para um tanque de fermentação secundária no fundo do qual foi colocada uma camada de lascass de faia (lagering); a adição de uma parte de mosto recém fermentado provoca refermentação (kräusening), seguida da fase de maturação. Este processo exclusivo serve para suavizar o sabor: as lascas atuam como um catalisador da ação bioquímica da levedura, que precipita sobre elas e continua a reagir até a fermentação completa.


Por fim, para evitar que fique turva ao ser refrigerada, a cerveja passa pelo tratamento anti-resfriamento em tanque com tanino natural. Isso fixa algumas proteínas presentes no líquido e precipita junto com elas na forma de partículas sólidas.


Além da Budweiser e da Michelob, o catálogo da empresa atualmente inclui muitos outros produtos, mas nenhum com dióxido de carbono adicionado.


2 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


bottom of page